sexta-feira, 2 de abril de 2010

o dia em que roubaram meu carro

- Espera lá fora

Espero a outra pessoa sair. Entro, me sendo. Depois de uns 5 minutos, que pareceram horas. Inquiriu-me:

- nome?

- RG?

Duas perguntas em tom seco

- o que te aconteceu?

O palavreado combinava perfeitamente com o ambiente. Uma sala com no máximo 9 metros quadrados, (era pequena, matemática nunca foi meu forte) tenho certeza que deitado, ali eu não cabia. Na parede resquícios de um ar condicionado. Abaixo do mesmo, metade de um ventilador. Calor deveria fazer ali, no verão. Naquele dia calça e camiseta bastavam.

De todos os objetos daquele pequeno ambiente, o grampeador, caracterizava o lugar como um todo. Ele era antigo. Mas era daqueles grampeadores de banco, para grampear grandes talões de cheques. No passado devia ser o rei dos grampeadores. Aposto que se aquela coisa falasse muita história contaria. Agora estava aleijado, o coitado. Para ser útil em sua função, de unir as folhas, era necessária sua abertura, e um leve empurrãozinho com o dedo, substituindo a mola estragada. A ferrugem por dentro denunciava sua idade avançada.

Continuando a viagem dos meus olhos, o computador me intrigou, era o único limpo e novo. Tela de LDC, mas pelo visto de boa mesmo, só a tela. Não precisava entender muito de informática para perceber que o computador em si não deveria ter nada de mais. Atrás não tinha nem porta USB. Como a mente humana divaga, pensava eu naquela sala. Então falei:

- Meu carro.

- Que foi?

- Roubaram, o rádio, destruíram a porta, amassou tudo. Levaram o álbum branco dos Beatles, quebr....

- Onde tava?

- Na Osvaldo Aranha.

- Seguro?

Achei estranho que aquela pessoa não devia esta acostumada a falar mais de duas palavras por frase. O trabalho é a única explicação. Assim como o grampeador, aquela que me falava (isso mesmo aquela, era uma mulher), devia ter tido seus dias de glória. Por trás de toda a rispidez do tratamento, ela tinha algo. Olhei para além dela. No meio do cúbico, meio amarelado, com o reboco caindo, um cartaz de uma campanha governamental de mil novecentos e muito. Havia uma bolsa de oncinha. É oncinha, pode ser meio mau gosto, mas já é um gosto. Aquele ser parecia não ter gosto, ou estar moída pela labuta.

- Esse moço que estava antes de ti aqui, assaltaram na Vasco agora, ali perto do teu furto.

- Registrar ocorrência, é aqui.
Perguntou uma pessoa da porta.

- Espera lá fora. – Respondeu a moça que novamente armou-se com o mau humor, perdoável, da escrivã mumificada naquele ambiente insalubre – O que eu devo fazer colocar um cartaz dizendo que é ocorrência, plantão não basta? – desabafou

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