sábado, 3 de abril de 2010

Planalto central

Era seco. Muito seco, a boca rachou em menos de um dia. Descobri como se sentiam as uvas, depois que elas viravam uvas passa. Hidratar o termo que ouvimos tanto no colégio transformou-se em lei de sobrevivência. Todos alertavam: - Agora está ótimo. É época da chuva.

A cidade era seca e suas construções espalhadas, sem o mínimo de aglomeração, davam a idéia de miragens no deserto. Uma, depois outra. Os arquitetos fizeram seu trabalho muito bem feito. Aposto que todos os prédios deveriam ter uma linda vista. Mas a vista para os acostumados a grandes metrópoles, com muita gente, e grandes aglomerados por incrível que pareça: era feia. A idéia de miragens consolidava-se a medida que as construções eram inalcançáveis. O terreno era extremamente plano, então se tinha a ilusão da proximidade. Doce ilusão.

Em meio à secura das mãos, ao cansaço dos pés, de caminhar e nunca chegar. Havia a esperança no povo. A população que formara aquela localidade vinha de toda a parte. Não havia um biótipo definido, nem sotaque. Era estranho, mas ao mesmo tempo percebia-se, que as pessoas eram acolhedoras, pois o local era inóspito para todos. Ninguém era daquele chão. Nem comida típica havia ali, ou algum tipo de diversão aos domingos. Era uma local, seco, sedento por ser alguém.

2 comentários: